Depois dos trotes de
primeiro de abril,
misturar categorias no liquidificador parece ser o passatempo favorito
do grupo BMW. Depois do X6, do Série 6 Gran Coupé e dos modelos GT
(Série 3 e 5), chega ao Brasil o mais novo blend da família: o Mini
Paceman. Afinal, o que diabos é ele?
Definir o Paceman é tarefa tão fácil quanto identificar os
ingredientes de um prato de cozinha fusion: ele é meio cupê, meio hatch,
meio SUV – e, pra jogar o doce no ventilador, a Mini o define como
Sports Activity Coupé (SAC), uma jogada inteligente para valorizar o seu
estilo diferenciado e que tenta prevenir que o Paceman seja engessado e
comparado em categorias específicas. Seu nome também nos traz
lembranças oitentistas.
Fica mais fácil de entender o Paceman se você o vir como um
mini-Evoque: mais em conta, mais simples, mais arredondado e um pouco
menor. Dentro da família Mini, ele pode ser explicado como um mix do
hatch Cooper e do SUV Countryman – e, como veremos, isso se confirma em
todos os sentidos.
A princípio, o Paceman chega em versão única de R$ 139.950, já
equipado com rodas aro 18, ar-condicionado digital (como todo Mini, não é
dual zone), teto solar panorâmico de abertura elétrica, sistema de som
Harman-Kardon, assistentes de direção (ABS, EBD, controles de tração e
de estabilidade), seis air bags, faróis bi-xenônio e sistema multimídia
completo, com GPS e o Mini Connected, que permite o pareamento de smart
phones (principalmente o iPhone) para o uso de uma série de aplicativos –
redes sociais, rádios on line, sistemas de busca, etc.
Seu motor é o já conhecido e excelente 1.6 turbinado de 184 cv a
5.500 rpm, com 24,5 mkgf de torque a 1.600 rpm, combinado somente ao
câmbio automático de seis marchas, com opção de trocas manuais
sequenciais ou por borboletas.
O primeiro lote do Paceman está disponível com oito cores de
carroceria, três de teto (preto, branco e a mesma da lataria) e interior
em couro sintético preto – mas o segundo lote já deverá trazer mais
opções de cores para as forrações e opções de customização. No segundo
semestre, chega a versão de tração integral All4.
Por fora
A dianteira do Paceman é basicamente a mesma da do
Countryman.
As diferenças são mínimas: moldura cromada da grade 5 mm mais profunda e
um pequeno spoiler embutido no arremate do para-choque.
Mas, da coluna do para-brisa para trás, tudo muda: a linha de cintura
ascendente contrasta com o teto descendente e forma um “V” similar ao
do Range Rover Evoque, o para-lama traseiro possui um grande músculo que
conversa com a lanterna horizontalizada (uma quebra de estilo
importante, pois todos os Mini possuem este grupo ótico verticalizado)
e, claro, o Paceman tem três portas – mas o seu entre-eixos é o mesmo do
Countryman: 2,59 m (o Mini Cooper tem 2,46 m). Isso faz toda a
diferença lá dentro – especialmente se você tem mais de um carona.
Por dentro
Geralmente começamos aqui mostrando uma foto do painel. Mas a grande
jogada do Paceman está nos bancos traseiros: são dois individuais, como
no Aston Martin Rapide. É uma baita sacada de estilo e que permite
melhor apoio para os passageiros de trás em curvas e mais conforto em
viagens. Aqui está a grande diferença para o Mini Cooper: o Paceman,
como o Countryman, é mais sociável e permite que você leve mais de um
passageiro (na prática, o hatch é um 2+2).
Na foto abaixo, temos os bancos na cor marrom, com outro pacote de
acabamento e console inteiriço. O conceito dos bancos individuais seria
melhor aproveitado se o espaço para os joelhos fosse um pouco maior (é
comparável ao do Gol) e se houvesse apoio central de braço. Por outro
lado, apesar do teto rebaixado, o espaço vertical é bom: tenho 1,82 m e
minha cabeça estava longe do teto. O porta-malas é apenas razoável: 330
litros.
Na frente, o que temos é o clássico Mini Cooper: painel estiloso,
velocímetro central e conta-giros fixo na coluna de direção com
computador de bordo e velocímetro integrado. Vale mencionar as luzes de
cortesia com cores customizáveis, assinatura da marca. A posição de
dirigir é similar à do Countryman: um pouco mais verticalizada que a do
Mini Cooper, mas ainda esportiva. Não somos fãs das borboletas
redundantes e de movimento duplo: tanto a direita quanto a esquerda
podem aumentar (puxando) ou reduzir as marchas (apertando).
Há uma pequena e grande novidade no Paceman, contudo: finalmente os
comandos dos vidros saíram do console central e foram para as portas!
Como anda, como corre
Nosso trajeto foi curto – cerca de 30 km, saindo da cidade de São
Paulo em direção à Granja Viana pela rodovia Raposo Tavares -, mas foi o
suficiente para captar a essência do Paceman. Sua dinâmica segue o
mesmo conceito do design: é algo entre o Mini Cooper e o Countryman.
Você tem bastante agilidade em mudanças de direção (ajuda a caixa de
direção elétrica, com relação de 14,1:1) e a suspensão apoia rapidamente
e é bastante comunicativa.
Uma assinatura tão clássica quanto o
go-kart feeling dos
Mini é a dureza de suspensão, preço que se paga pela agilidade dinâmica:
o Paceman não é crocante como o Mini Cooper S, mas basta pegar um
buraquinho um pouco mais recortado para você sentir a pancada seca. Os
pneus do tipo runflat, com flancos extremamente rígidos, colaboram
negativamente nesta parte. Contudo, os amortecedores são mais
complacentes com o piso em irregularidades pequenas e “bumps” típicos do
asfalto brasileiro, como aqueles remendos feitos por reparos na rede de
gás e esgoto. Dá pra circular por aí sem sofrer.
O grande barato do motor N18, o 1.6 turbo de 184 cv, é o seu torque:
seus 25,5 mkgf a apenas 1.600 rpm fazem com que o Paceman pareça ter um
motor de deslocamento maior. O câmbio automático de seis marchas faz o
seu papel: conversor de torque ágil, trocas rápidas, programação bem
inteligente. Mas lamentamos a falta da transmissão de oito marchas da
ZF, a 8HP, já usada em vários modelos da BMW. Isso deixa o Mini um pouco
atrasado tecnologicamente.
Um recurso bacana que o Paceman tem é o botão Sport: ao acioná-lo, a
direção fica mais firme, as marchas são esticadas por mais tempo e ficam
com trocas mais rápidas e o principal, o acelerador ganha mapeamento
bem mais agressivo. É diversão garantida. Mais uma coisa: ao pisar o
pedal da direita até o fundo, o Mini aciona um overboost temporário, que
eleva a pressão máxima do turbo de 1,2 bar para 1,4 bar por seis
segundos. Não é exatamente o tipo de coisa que altera o eixo de rotação
da Terra, mas você vai dar uma risadinha.
Devido ao trânsito, não pude forçar o Paceman no limite de aderência
como gostaria para detalhar para vocês sua dinâmica – mas ele tem tudo
para ser melhor que o Countryman, que já é muito bom. O feedback dos
freios é bem adequado: pedal firme, respostas rápidas, nenhuma surpresa.
Bottom line
O Paceman é um Mini Cooper mais sociável e adequado para as ruas
brasileiras – ou um Countryman de três portas com design mais agressivo.
Você decide.
O que não muda é o fato de sua etiqueta assustar os incautos. Como
todo Mini, o Paceman é uma compra absolutamente emocional: pelo lado
racional da coisa, você vai descobrir que dá pra comprar muita coisa
legal por R$ 140 mil. Dá pra levar pra casa um BMW X1 sDrive 20i GP com
teto solar, um Audi Q3 ou algum hatch bacana, como o Audi A3, BMW 118i
Full, Mercedes-Benz Classe A, Volvo V40 – entre muitas outras opções.
A questão – e que os caras do grupo BMW sabem bem disso – é, quem
compra um Mini, quer um Mini. É mais ou menos como o iPhone: muitos dos
smart phones concorrentes são mais baratos, possuem hardware mais ágil,
bateria com maior longevidade e câmera melhor, mas quem quer o celular
da Apple não abre mão. Fora o estilo, o iPhone ainda tem a interface que
é referência no mercado. No caso dos Mini, a interface é o
comportamento dinâmico e a diversão ao volante.
Nós? Bem, o
Roadster S
segue como o nosso favorito. Mas a versão John Cooper Works do Paceman,
que chega aqui no ano que vem, certamente vai nos arrancar muitas
gargalhadas recheadas de adrenalina.